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As Dificuldades Do Caminho: Sobre Sustentar Desejos

  • Foto do escritor: Bárbara Fu
    Bárbara Fu
  • 30 de ago. de 2023
  • 3 min de leitura

mulher de cabelo grisalho caminha do lado de sua bicicleta

Quem nunca seguiu uma receita à risca e teve que lidar com um resultado catastrófico não sabe o que é duvidar de si.


Esse texto não é sobre culinária.


Mas sobre o amontoado de certezas que gostamos de reservar para as pequenas e grandes causas, mas que por algum motivo, não garantem que as coisas deem certo.


O que se faz com uma receita que deu errado?

Joga fora? Reaproveita? Finge que deu certo? Muda de planos e tenta outra receita?

O que faz alguém tentar de novo? E de novo? E mais uma vez?


Qual é o tempero especial das mãos de quem consegue aquilo que tanto almejamos?


Quanto tempo dura uma receita que deu certo?

Eu não sei, mas certamente não é uma vida toda..


Esse texto também não é sobre “dar certo”, mas sobre o que sustenta um processo mesmo com as dificuldades do caminho.

Seja lá o que você decidiu encarar como caminho (um trabalho, um negócio, um curso, um relacionamento ou qualquer outra coisa que te indicou uma direção), como sustentar o próprio caminho com todas as suas provações?


Desejar algo não é apenas desejar que algo aconteça, mas é sobretudo, movimentar-se para que aconteça. De alguma forma, reencontrar algum ânimo após os desânimos, levantar-se após as quedas e querer, em alguma medida, voltar a se envolver com o caminho.


Na psicanálise, o desejo não é o encontro com algo que resolve a vida, aliás ele está longe de ser uma solução, o desejo é a própria busca.

Mas Bárbara, se não se trata de um encontro, mas de uma invenção, como o desejo surge em nós?


Eu me arrisco dizer que o desejo, assim como a psicanálise, é subversivo.

Ele surge na contramão do querer ou fingir ser feliz a qualquer custo. Ao invés de desviar e fugir do desconforto das angústias e das faltas, ao invés de varrer para debaixo do tapete as tristeza de algumas verdades, trata-se de encarar de frente nossas insatisfações e faltas, assumi-las e mais, tomar frente de fazer algo com isso.


É neste trajeto que algo do desejo pode ser inventado e depois disso, dá ainda mais trabalho, porque nos convida a bancar esse algo de importante, este algo de esperado, algo de nosso… tão nosso que o que nos resta é sustentar os percalços e dificuldades do caminho ou abrir mão de nós mesmos.


Em outras palavras, o desejo não soluciona as complicações da vida, mas norteia elas.

Conquistar, atingir, alcançar é com certeza algo muito gratificante, mas há um contínuo de tentativas necessárias para que o “dar certo” se funde, para que o caminho se sustente.


Vivemos tempos de muito imediatismo, inúmeras formas de satisfações, bombardeados com padrões irreais de produtividade, sucesso e bem-estar - o que faz que as frustrações inerentes a qualquer trajetória sejam atravessadas com doses avassaladoras de angústia, e ansiedade.


Para muitos, o que vai sobrando é um tanto de inibição diante da vida, isolamento, medo por arriscar novos movimentos.

Vemos pessoas que desistiram de seus "sonhos" diante de algumas dificuldades impostas pela vida e outras que desistiram antes mesmo de tentar, tamanha incerteza e insegurança que lhes rondam - haja anestesias e distrações pra dar conta de tanto desconforto.


O jeito é encarar os percalços, falar dos desconfortos, atravessar as angústias com o recurso da fala e da elaboração, a fim de que os desejos possam ser sempre resgatados ou reinventados em alguma medida.


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