Principais Dúvidas Sobre Fazer Terapia: O Que Saber Antes de Começar
- Bárbara Fu

- 29 de ago. de 2023
- 4 min de leitura

Para quem nunca fez terapia, são muitos os receios que permeiam a ideia de marcar uma primeira sessão.
Em geral sabe-se que a psicoterapia é uma conversa e que de alguma forma, essa conversa pode melhorar a vida. Mas como exatamente isso acontece?
Há muitas abordagens e linhas de trabalho dentro da psicologia, mas quero trazer aqui a perspectiva da clínica com a qual eu trabalho: a clínica psicanalítica.
A psicanálise é um método de tratamento que se vale principalmente da palavra.
A palavra é a via que nos dá notícias de como andam as coisas internamente.
Ela vai tentar transmitir o que sentimos e como vivenciamos as situações, vai apontar o que ainda está pesado e não digerido e talvez toque nisso até que se ganhe uma nova forma e possa abrir espaço.
Um trabalho que envolve falar e também ser apropriadamente escutado, por si mesmo e pela figura do analista.
Embora pareça “apenas falar”, o que se evidencia são efeitos significativos durante o processo. A terapia não é um lugar de desabafo ou descarrego (embora às vezes também possa ser), mas é sobretudo um trabalho de análise de si mesmo, da própria história e seus efeitos, da forma como lidamos com os acontecimentos e relações e em alguma medida, como lidamos ativamente com a vida.
É por dispendermos esse tempo de análise de si dentro e fora da sessão, que algo pode se modificar, se transformar ou recriar.
Quando devo procurar psicólogo ou um analista?
Ainda há bastante preconceito na ideia de “precisar de um psicólogo”, como se contar este tipo de ajuda profissional evidenciasse uma fraqueza ou algo para se envergonhar.
Ainda colhemos os frutos de gerações que entendiam que dar vazão às próprias emoções é algo problemático, que acreditavam no silêncio como forma de acabar com qualquer tipo de conflito interno (medos, receios, indecisões, insegurança, dores, traumas).
Neste sentido, há mais de 100 anos a psicanálise é subversiva ao postular que a fala, a palavra, é justamente o caminho de melhor compreensão e transformação das questões que nos assombram internamente.
Mas seja através da psicanálise ou outra abordagem psicológica, a terapia pode beneficiar todos que estejam atravessando algum tipo de sofrimento psíquico ou emocional, tais como:
Dificuldades nos relacionamentos
Lutos e perdas significativas
Angústias, estagnação e ansiedades recorrentes
Traumas
Mudanças abruptas
Conflitos familiares
Questões pessoais de autoestima ou sexualidade
Automutilação
Queixas escolares
Atravessar períodos de doenças e tratamentos e outros acontecimentos que abalem a forma de se sentir, viver e estar no mundo.
Ela também é um espaço para aqueles que buscam aprofundar-se em si mesmos, que imprimam um desejo de iluminar as próprias questões e analisa-las com a devida importância e cuidado.
O que devo falar? E se eu não souber o que falar?
Estar diante de alguém que nunca vimos antes para falar de questões íntimas não é algo propriamente confortável.
Sempre se chega com um pouquinho de incômodo e de expectativa em relação ao terapeuta. Como qualquer relação, leva-se um tempo para construirmos um laço de confiança.
O que é importante saber é que aqui tudo pode ser dito sem censuras, todos os assuntos são permitidos, mas não são obrigatórios. O limite de cada um é cuidadosamente respeitado e os silêncios também são bem-vindos, sobretudo quando são necessários.
Enquanto essa relação caminha, é importante que você possa falar com honestidade destes desconfortos, abrir suas dúvidas, falar das expectativas frustradas, dos sentimentos que aparecem próximos ou dentro sessão.
Pode parecer assustador no começo, mas com o tempo essa dinâmica começa a fluir mais naturalmente, à medida que o vínculo entre você e o terapeuta se fortalece.
Quanto tempo de terapia é preciso para obter os resultados desejados?
Cada pessoa tem um tempo e um ritmo, por isso, não é possível prever quanto tempo durará uma análise.
Mas se você está em busca de respostas e resultados rápidos, há muitos serviços no mercado para isso, mas a psicoterapia e a psicanálise não fazem parte delas.
Uma boa análise pode transformar o curso de uma vida e isso não é uma tarefa simples, prática ou rápida. Ao iniciar esta trajetória, tenha em mente que mais importante que obter respostas, é conseguir sustentar as perguntas.
“Por que eu aceito isso?”
“Como fui parar nesse tipo de situação de novo?”
“O que me mantém aqui?”
Existem perguntas que nos implicam e provocam a entender o caminho que nos levou até ali e a partir disso, poder construir novas respostas e escolhas.
Nesse percurso podem ter dias de maior ou menor expectativa com os encontros, maior ou menor “conexão” com o terapeuta, maior ou menor satisfação com os “resultados”.
A própria análise é o melhor lugar para falar destas oscilações, sobretudo quando estão estremecidas.
O fim da análise é um tema a ser decidido entre você e o terapeuta – mas sabe-se que nenhuma análise precisa ser eterna.
J.D Nasio, um grande psicanalista francês, nos escreve em um de seus livros que o maior objetivo de uma análise é que o paciente se torne, com o tempo, o melhor analista de si mesmo.
Como funciona a questão do sigilo?
Tudo o que é dito ao terapeuta é resguardado pela ética do sigilo.
É dever ético do psicólogo e/ou psicanalista respeitar a confidencialidade das informações, protegendo a intimidade das pessoas, grupos ou organizações a que tem acesso através do seu trabalho.
Em nosso código de ética profissional, a quebra do sigilo só é admissível em casos delituosos, que coloquem em risco a vida ou integridade do próprio cliente ou terceiros.
Enquanto terapeutas, é parte da nossa prática clínica contar com apoio de um supervisor na condução dos casos, um profissional que auxilie a enxergar lacunas que às vezes, por questões humanas, passam “despercebidas”. Nessas ocasiões os nomes são sempre mantidos em sigilo e o supervisor, também enquanto terapeuta, também está comprometido com a ética do sigilo.
Quanto custa fazer terapia?
Muitas pessoas têm medo de procurar ajuda por acreditarem se tratar de um serviço de alto custo. De fato, o acesso à serviços de saúde mental ainda é bastante limitado, mas existem instituições que fornecem assistência psicológica, avaliações e terapias de forma mais democrática e acessível, tais como universidades, escolas de psicanálise e serviços públicos de saúde.
Ao procurar um terapeuta particular, é natural querer saber dos valores antes de qualquer engajamento, entretanto, alguns profissionais preferem conversar pessoalmente sobre o valor, ao invés de informar pelo telefone de forma impessoal.
Isso porque o trabalho de análise se dá sobretudo através da palavra e dentro de um espaço terapêutico.
Se todos os assuntos são permitidos, o dinheiro não deve ser um assunto proibido ou constrangedor a ser conversado.
Para uma boa parte dos profissionais da área, o diálogo sobre valores é sempre possível, para que se chegue num denominador comum.






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